Quem foi vítima de abuso (emocional, físico ou sexual) na infância tende a procurar apoio em pessoas pouco confiáveis durante crises na vida adulta.
A explicação mais provável é que estas pessoas tem mais dificuldades em manter relações longas e próximas e seus relacionamentos tendem a ser conflituosos.*
Essa tendência pode explicar porque mulheres que são abusadas pelo parceiro costumam ter uma longa história de agressões também por parte dos companheiros anteriores. Isso é especialmente complicado quando essas mulheres, além de sofrer violência na relação, sofrem preconceito por parte da sociedade, evidenciado em opiniões de que “ela gosta de apanhar” e outras frases do gênero. O que se observa na verdade é que estas mulheres mantém as relações abusivas porque estão extremamente habituadas a este padrão, e cada violência pode tornar ainda mais difícil estabelecer relações íntimas.
É preciso compreender que as vítimas de violência não “gostam” de apanhar ou de ser maltratadas! Além das razões expostas acima, a necessidade do ser humano por coerência é enorme. A tendência sempre é de permanecer no que é conhecido, pois, por pior que seja a realidade, o fato dela ser coerente com o que a pessoa já está habituada traz alguma segurança. Os sentimentos ambivalentes em relação ao agressor também não são raros e são compreensíveis quando pensamos na dependência – seja emocional seja financeira ou social – que costuma ligar vítimas e agressores. É importante ser compreensivo e manter o foco em ajudar as vítimas, ao invés de criticar!
*Fonte: Andrews & Brown, 1988). (Briere; Cloitre et al., 2002; Cloitre et al., 2005; Cloitre et al., 2004; Litty, Kowalski, & Minor, 1996).
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Juliana Garbayo
Graduada em Medicina na Universidade Federal Fluminense (UFF). Cursou Residência Médica em Psiquiatria na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-IPUB)